EU QUE AMO VOCÊ
Cansei-me ao fingir ser bem amado,
mas agora sei,
nada mais estou que mal resolvido.
Nenhum dos casos me fez ser quem eu sou.
Sempre me doei, e nem sempre recebi o troco,
mas doação não requer troco, e sim troca.
Mas que fique subentendido.
Me fiz tolo, até idiota já fui,
mas como não encontro a medida certa de amar,
manejarei mal as coisas,
crente que nada será diferente após essa introspecção.
Cansou-me esses amores
confidenciando-me que sou especial,
“diferente de tudo que já haviam visto ou sentido”.
Dessas meias verdades e inteiras cobranças.
Dessas personagens que esperam um príncipe em cavalo branco,
dessas plebéias inexatas e incrédulas.
Que não suportam o não.
Dessas mulheres, que sonham com um lindo loiro de olhos azuis
de metro e oitenta, artista de cinema, rico, e que fale inglês.
De falo infalível.
Ah!
Enquanto eu:
“apenas” eu,
um moreno,
brasileiro,
mineiro,
e que se esforça no português,
levemente regional.
Comum.
Como os demais comuns.
Cansei-me ao brincar
com os sentimentos
nos quais não acredito,
de oferecer o que não possuo,
de precisar de favores
que extinguem a solidão .
Cansei-me de:
amores: fúteis;
sexo: fútil;
carinhos: fúteis;
esperança: fútil;
verdades: fúteis.
Dédalo.
Sim: eu amo.
E a quem importa?
Amor não mais move montanhas,
não forma constelações,
não mais rende verdades,
poesias.
Amor rende manchete policial,
patologias.
Cansou-me a vileza,
de ser vil.
Da mais profunda e sórdida vileza,
que me é reservada por olhos e línguas descrentes.
De espíritos incontentados
que culpam a todos, excetuando -se.
Dos carentes, da carência que me invade.
Do paliativo, de ser cuspido.
Das comparações, das insatisfações.
Cansou-me o esperado,
o planejado,
o sonhado e fantasiado.
Eu quero mesmo é nada,
e esquecer o que parecia ser tudo.
Cansei-me ao ser covarde,
de não encarar verdades,
de fantasiar.
De ser verdadeiro.
A verdade a nada importa,
somente a mim mesmo,
porque, por mais que seja real,
ninguém crerá senão eu mesmo,
então a que vale a verdade?
Esquecerei permanentemente de pedir,
ao longo da vida receberei
apenas o que me convier, nada mais.
Ouvirei,
Atentarei.
E regurgitarei tudo,
em proveniente reclusão.
Pois sei, que mesmo cansado de tudo isso,
ainda será isso o tudo.
Disponho-me veementemente ao egoísmo.
Eu que amo você.
Eu que me amo.
Você que se ame.
Um comentário:
Oi, Gilberto!
Que belo desabafo! Que confissão comovente! Gostei muitíssimo!
Meus aplausos!!!!!
Um grande abraço,
oliveira
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