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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Fantástico - mas nao me cabe invejar esse senhor...

Degustação de vinho em Minas - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

- Hummm...
- Hummm...
- Eca!!!
- Eca?! Quem falou Eca?
- Fui eu, sô! O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim estranho?
- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas...
- Putaquepariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo?!
- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?
- Cebesta, eu não! Sou isso não senhor!! Mas que isso aqui tá me cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso tá!
- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!
- O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é?
- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então...
- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!
- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no...
- Mais num vai introduzi mais é nunca! Desafasta, coisa ruim!
- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...
- Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta...
- O senhor poderia começar com um Beaujolais!- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana!
- Então, que tal um mais encorpado?
- Óia lá, ocê tá brincano com fogo...
- Ou, então, um suave fresco!
- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de meter um tapa na sua cara desavergonhada!
- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!
- Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, memo! Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima com brabuleta...
- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?
- E que tal a mão no pédovido, hein, seu fióte de Belzebu?
- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei?
- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô de rôia!
- Mole e redondo, com bouquet forte?
- Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois... e é treis! Num corre, não, fiodaputa! Vorta aqui que eu te arrebento, sua bicha fedorenta!.. .
Luiz Fernando Veríssimo

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Poemas e poesias e prosas e...

TINHOSA – Gilberto P Reis

Que queres tu?
Senão desgraçar-me a razão
Tornar-me um bêbado em dias de novena
Profanar o púlpito de minh’alma?

Que fazes tu?
Senão condenar-me ao lânguido martírio.
Caminhar-me ao lodo viscoso
Por puro prazer profano.

Que pensas tu?
Que deixarei cair-me em desgraças?
E ser levado ao dorso de Argali?
Engana-se, sou anixo, mas virtuoso às escusas.

Então bruxa mandingueira,
minha´alma não carregas.
Menos meu coração.
Menos meu perdão.

CONTA O PONTO... – Gilberto P Reis

[Todos querem...
Partindo do princípio de qualquer conto
Em que todo ponto marca o fim
-E que o fim é o começo-
De qualquer história
Mas não marca pontos necessários
Para que haja encontros
Enquanto se perdem e perdem Tickets de desconto.
Bilhetes de cinema para historiar calmantes
Sobre o começo da vida e o fim do amor
Das lições e missões sucedidas e das relações marginais
Fim de mês e do sal contas muitas e do colar
Que contava a historia da avó e avô
E agora pagam as contas do penhor
Sendo o penhasco remédio de um comprimido só
Muitas vezes já curou a dor
De desconhecidos de muitas histórias que o livro
Ocultou nas páginas em branco, e arrancadas
Para fazer calor.
E eu não sei seu conto
Por acaso ias...?
... Contar.]


LEI PARA TODOS OS HOMENS – Gilberto P Reis

Cada rua que eu subo e desço; mensurável.
Como que cada dia andasse mais pelo mesmo caminho.
O caminho se torna maior e fatigoso.
O mesmo imensurável.
Ou eu não percebo possível causa; menso.

Causa incógnita de ser; mensual.
E por caminhar o mesmo caminho.
Afim de sustentar; mens legis.
Mênstruo; para matérias pertinentes
Que ao acaso possa me ser valente.

Visto esses dias fatigantes.

Mentado; serei por pouco e poucos.
Em lápide barata sobre terra intumescida
Denunciando cova pobre.
Tumeficado; Já estou há muito...




O gato – Gilberto P Reis

Boa-noite! Digo ao espelho
Vem a hora do descanso
A tinta secou
A pena gastou
E sendo assim os sonhos não voam mais

O papel branco na mesa
Revela onde estou
Os meus desejos carnais

Sabe-se que Marias e Marias
Partem e vão nem sempre sós
Há sempre outros Joãos
João que me tomou Maria
Me presenteou a solidão
E não é por Maria
Por que Maria tem muita
É por causa do gato

O felino que esquentava meus pés
Aos pés da escrivaninha
De madeira compensada
O bicho não era meu
Era de Maria
Tanto que nem lembro o nome do bicho
Assim como Maria não se chama Maria
E quem a levou não se chama João
Mas o gato foi levado e
Era branco como o papel sobre a escrivaninha.

Papel
Que limpa a boca gordurosa
Que orna sanitários
Que aceita obscenidades
Que suga água e óleo
Que seca os dedos glutões
Sempre branco
O branco merece o sujo

Era estranho e belo
Maria acariciando o gato
Carregava pra lá e cá
Amava o bicho
Me odiou no final
Eu não tinha ciúmes do gato
Entende?

Maria era gentil
Com o gato com João
Comigo não
Mas eu tinha pena
Papel, tinta, e gato
A raiva de Maria era que no papel branco
Eu escrevia Maria rainha eu era rei
No papel branco.



CAMAFEU – Gilberto P Reis

A grande pedra que carrego estava sob meu passo
E guardei em meu bolso
Enrolada em papel de sonhos gravados com caneta esferográfica
Em noite insônifera
E tende-me a tombar de lado pelo bolso cansado.

Carrego a pedra pra peso de papel
Para o papel de sonhos
Sonhos são ironias que ainda não aconteceram
Que aguardo como um camafeu.
Minha morte é ironia.

Ironia não dar meu nome ao seu filho que não é meu
Não dançar valsa em bodas de vossa senhoria
Velar-me sem seu desespero de viúva precoce.

Quão insano estou
E eu canto
Recanto pra afogar memórias
Maltratá-las como maltrata os ciúmes
Crime meu do mundo do criador do mundo.

E mensuro a pedra e parto em duas
Pra equilibrar meus lados enquanto caminho
[em chão pavimentado.
Em minha casa, solitário, servirão de peso de papel
E pesará meu sonho.

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Mais um rosto – Gilberto P Reis

Mais um rosto – Gilberto P Reis

_ É doce?
_ Não! Não é doce! E o correto é suave! Mas este é seco, como deveria de ser!
_ Hum... Não gosto de vinho seco. Trava a língua.
_ É uma questão de acostumar o paladar, você vai ver...
_ Ih! Pode ser... E é branco, gosto mais de tinto. Você deve tá me achando uma chata não é?
_ Não! Imagine! Estou adorando sua companhia! Beba!
_ Hum! Até que é bom! Acho engraçado quando vocês ricos cheiram o vinho antes de beber! É chique, sabe? Quando eu era menina minha mãe me levava para o trabalho na casa de um antigo patrão dela. Era um senhor rico, tinha uma casa enorme assim como esta. E ele bebia muito vinho. Ia um monte de gente na casa dele tinha dia só pra ficar bebericando vinho e comendo queijo.
_ Provavelmente eram reuniões de degustação. Você gostou deste? É alemão! Sabia que os melhores vinhos brancos são alemães?
_ Não... Não sabia!
_ Pois é! Sua produção é controlada pelo governo, assim como na Itália, frança, Espanha e outros países da Europa. E então, gostou do vinho ou não?
_ Gostei! É cheiroso. E fica um gostinho bom na boca.
_ Mais um pouco?
_ Sim, por favor!
_ Seu sorriso é esplêndido... E engraçado!
_ ...
_ ...
_ Você é tão alegre, pelo seu sorriso vi que era alguém que valeria à pena conhecer.
_ interessante você falar isso, mas eu sou mesmo alegre, feliz até, mas acho que é mais por culpa da minha mãe! ... É por causa do nome que ela me deu! Como eu disse pra você meu nome é Regina, Regina Letícia. Que quer dizer rainha da alegria, pelo menos foi que minha madrinha disse. Nisso acho que eu nasci podendo.
_ Você é mesmo hilária! Mas faz sentido. Regina deriva de rainha, real, e Letícia do latim Laetitia, que significa alegria. Você tem sorte por carregar um nome que rege sua vida.
_ Às vezes não entendo o que você fala. Sou meio burrinha sabe?
_ Não! Você não é!
...
_ Você parece... sério, triste, estava sorrindo agora mesmo ... Mas me diga! O que seu nome significa?
...
_ Hum? Ah, meu nome. Coincidência ou não, César significa imperador, César Augusto, o imperador supremo. Em russo, Czar; em alemão, Kaiser; e em latim é Caesar, que também pode ser aquele que nasce por cesariana. O que também não deixa de ser uma verdade.
_ Vamos deixar nossos nomes de lado? Posso fazer uma pergunta?
_ Pois sim!
_ O que um homem como você estava fazendo no metrô numa hora daquelas em plena segunda?
_ Como assim um homem como eu?
_ Oras! Você tem grana, veste bem, e eu vi que tem carros na garagem, e em plena tarde num calor danado no meio daquele monte de gente. É estranho!
_ Tive um fim de semana peculiar, então resolvi não trabalhar hoje e saí à procura de alguém...
_ Hum! Não sei o que é peculiar, mas não deve ser nada bom... Mas foi procurar onde? Não devia andar desse jeito no metrô, o que tem de vagabundo você nem imagina.
_ Não procurava em nenhum lugar especial, nem ninguém em especial, melhor dizendo, procurava qualquer alguém que fosse, desde que fosse especial.
_ Você achou?
_ Me responda você!
_ Eu?
_ Mais um pouco?
_ Sim!
_ Me diga! O que fazia no centro da cidade?
_ Procurava trabalho, fui a uma agência de empregos e depois a uma entrevista pra balconista num shopping . Sai ainda era cedo de casa. Minha mãe sempre diz que quem cedo madruga Deus ajuda, e tô mesmo precisando. Tava voltando pra casa quando te vi...
_ Conseguiu o emprego?
_ Ficaram de me ligar se eu passasse.
_ Shoppings preferem moças bonitas pra atendentes, eles te ligarão.
_ Tomara!
_ Você mora onde mesmo?
_ Na zona Oeste, barra pesada, provavelmente você nem conhece. É um bairro novo, nem asfalto tem.
_ Provavelmente...!
_ Você não me disse quantos você tem...
_ Vinte e nove! E você?
_ Vinte e um! Faço vinte e dois mês que vem! ... O que você faz? É novo, rico. Deve ser alguém importante. Mas sei que artista de TV não é, porque senão eu saberia!
_ Não! Não sou artista. Sou advogado. Meus pais faleceram e herdei essa casa onde vivo sozinho, deve ter o quê... Uns 8 anos, dentre outras coisas.
_ Hum! Que pena, meus pesares...
_ E você, mora com seus pais? Tem namorado?
_ Olha, lindo! Se eu tivesse namorado não taria aqui tomando vinho com você sozinha em plena tarde de segunda-feira. Se não tivesse desimpedida ...Um homem que acabei de conhecer.
_ Me desculpe se te ofendi! Não era minha intenção!
_ Não se preocupe! Não ofende! Sou adulta! E respondendo sua pergunta: moro com minha mãe. Pai não tive. Minha mãe trabalha em casa de família, só vai pra casa nos fins de semana, é quando temos tempo juntas, e eu não tenho irmãos, acabando ficando sozinha. Vez e outra que durmo na casa de alguma amiga. É ruim viver sozinha.
_ Eu que o diga!
_ Pois é! Então... Minha mãe volta pra casa nas sextas à noite, a gente sai pra dançar, vamos a algum bar tomar umas cervejinhas, e por aí vai... Eu amo minha mãe mais que tudo nessa vida. Ela é minha melhor amiga. Queria poder ajudar ela, ela cuidou de mim sozinha, trabalhou a vida inteira na casa dos outros.
_ Você estuda?
_ Já me formei tem três anos! Só o colegial. Não tenho grana pra faculdade e na federal... Nem... Minha mãe sempre fala pra eu estudar que passo, que sou inteligente, mas eu sei que não consigo. Coitada! É o sonho dela me ver na faculdade, queria que eu fosse professora, enfermeira, qualquer coisa, menos doméstica.
_ Mais um pouco?
_ Sim! Estamos secando a garrafa.
_ Prosa combina com vinho...
_ É mesmo! E não é que to gostando do branco seco! Mas gosto mesmo é de champanhe...
_ Podemos abrir um...
_ Não! Você não parece mal-intencionado, mas está de bom tamanho só esse!
_ Deixemos pra outro dia então!
_ Pra outro dia! Por que não?
_ Mas me fale! Conte mais de sua vida!
_ Sei lá! O que quer saber?
_ Qualquer coisa! Gosto de ouvir você. De ver você sorrindo. Apenas fale!
_ Hum. Vamos ver... Sabe... Você me acha bonita?
_ Claro! Você não?
_ Achar eu acho, mas não sei se tanto assim como as pessoas falam. Já trabalhei em vários lugares e as pessoas diziam que eu tinha sorte por ser bonita, que ajudava. Muito patrão já deu em cima de mim, querendo tirar proveito de mim. Sabe? Eu não gosto disso. Nunca fui de dar sopa por aí só porque o cara é tem dinheiro ou é bonitão. Sou um pouco da minha mãe nisso. Ela é discreta. Você precisa ver minha mãe, eu acho ela mais bonita do que eu, principalmente pela idade dela, bem que ela é nova, me teve cedo. Sabe? Foi iludida quando era menina por filho de patrão, essas coisas, e ela sempre me disse que eu devia ficar na minha, não fazer besteira que nem ela, porque eu sou bonita e vou achar quem me faça bem...
_ Concordo com ela!
...
_ Então... Eu já fiz umas besteiras na minha vida... Mas ser bonita tem vez que é ruim, você vai numa festa, espera que um sujeito te chame pra conversar e acho que ele acaba ficando com medo achando que vou “dar toco” nele.
_ Acontece isso mesmo! Eu mesmo já passei por essa situação várias vezes. Acabava por ficar só observando, e no fim a moça era abordada pelo cara mais sem sal do lugar, e pra piorar, ela acabava ficando.
_ E não é? Tem uma historia da minha vida que não gosto muito...
_ E qual é?
_ Vou te contar porque você me parece legal, e compreensivo também!
_ Brigado! Mas conte! Estou curioso! Mais um pouco?
...
_ É que uma vez envolvi com um cara barra num bairro que a gente morava. Eu era adolescente ainda, tinha dezessete pra dezoito. Ele era traficante, mas eu não sabia. Sabe? Ele ia sempre na porta do colégio, uma amiga me apresentou, mas não falou nada. Começamos a conversar, até que um dia ele me levou um anel bonito, parecia de ouro mesmo. Comecei a ficar com ele. Durou uns quatro meses, mas aí descobri que ele mexia com drogas, fugia de polícia e tudo. Então me desesperei, se minha mãe soubesse daquilo ela ia ter um troço. Fui terminar com o sujeito e sabe o que ele fez? Disse que ia me matar se eu deixasse ele, eu não sabia o que fazer, fiquei uns dias sem ir à escola, então um dia ele foi lá em casa, eu tava sozinha, colocou uma arma na minha cara e perguntou se eu ainda queria terminar. Eu disse que não! É claro! Ele me fez dormir com ele, já tinha dormido com ele antes. Então dias depois me vem a noticia que ele tinha sido assassinado numa favela próxima. Deus que me perdoe, mas eu senti um alivio. Sabe? Não sei por que causa to te contando isso, não gosto nem de lembrar. Sabe?
_ Não se sinta mal por isso, algumas coisas na vida servem de lição! Nem se envergonhe por causa disso!
_ Vergonha não tenho! Só agradeço por minha mãe não ter sabido disso! Acabou o vinho né?
_ Acabou...
_ Sabe? Não acredito que eu tô aqui na sua casa! Acabei de te conhecer, num trem, não acredito mesmo. E já tá tarde. Daqui a pouco o povo começa a sair do trabalho e lotam os ônibus. Tenho que pegar um até a estação, esqueceu? Tenho que ir...
­_ Eu te levo... É o tempo de eu pegar as chaves do carro!
_ Não! Nem pensar! Imagine! Eu aparecendo de carrão lá em casa. Minha mãe saberia antes de eu entrar na porta de casa, e você já deve tá alcoolizado depois desse vinho. Lá também é meio perigoso! Roubo! Essas coisas!
_ Olha! Te deixo o mais próximo de sua casa sem te comprometer!
_ Não! Melhor não! Esquenta não, já to acostumada com ônibus e trem lotado! Melhor assim, brigada mesmo!
_ Bom! Chamarei um táxi pra te levar, e não aceito recusa. Tome meu cartão. Quero que me ligue assim que chegar em casa. Ok?
_ Tá bom! Sabe? Você é um cara legal, adorei te conhecer...
_ Não tanto quanto eu.
...
_ Você anotou meu celular, certo?
_ Sim, amanha mesmo eu te ligo. Acho que consigo um trabalho pra você!
_ Com você?
_ Não...
_ Hum! Pena!
_ Não há pena nisso! Só que não devemos nos comprometer!
_ Não?
_ Não! Afinal, o que sua mãe pensaria ao saber que você está se relacionando com o seu patrão?
...

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Osso oficial – Gilberto P Reis

Osso oficial – Gilberto P Reis

Chovia aquela manhã, como todas as manhãs das últimas duas semanas. O dia acordando sem vontade, cinzento, fatigado.
E o nosso personagem se levanta pontualmente, como há 30 anos o faz. Desde que a mãe morreu vive só, sem criadas – o estado do cubículo já o revela -, nunca se casou, de mulher a mãe o bastava. A barba estava por fazer, não tinha a que importante se mostrar no dia, os cabelos grisalhos o condenava à idade mediana, estavam bem cortados, fora ao barbeiro há poucos dias. Apanha o guarda-chuva centenário, presente de sua mãe, inseparáveis, e sai do ninho. Desce as escadas, como já o fazia por meses, elevador quebrado, mas morava no terceiro andar, nenhum esforço. Saúda porteiro e sai.
Quadra e meia depois, sapatos e barra molhados por aquela chuva insistente, sente também costas respingadas, e retorna, esquece-se do inesquecível paletó cinza sempre postado no cambito de madeira que fica por detrás da porta da sala. Voltou, apanhou, vestiu e voltou.
Do seu pequeno apartamento cinqüentenário até o escritório eram seis quadras, seiscentas e cinqüenta passadas. Era advogado. Tem muitos advogados nesta cidade, muitos criminalistas como ele. Escritório pequeno e simples, em prédio simples, numa região de baixo prestígio imobiliário. Tinha uma secretária, que já ocupava seu posto, uma escrivaninha, um grande armário, destes de metal, daqueles próprios para arquivo. Um telefone em sua mesa e na mesa da dona Odete. Dona Odete provavelmente trabalha com ele há uns trinta anos, era senhora, solteira, sem predicados, a não ser os cabíveis para o trabalho.
Tinha uma janela donde, sentado em sua cadeira mesmo, ele observava a rua. _ Súcia. Não cansava de dizer. Era um recanto feio, sujo, esquecido. Mas não esquecido por mendigos e toda sorte de degenerados. Quando era jovem ali era bonito, paragens finas. Cinema, charutaria, charcutaria, café, confeitaria. Hoje? Igreja, zona, scothbar e botequim.
Antigamente bandido era diferente: bicheiro, malandro, jogador e por aí vai. Bandido de hoje não tem respeito nem honra. Odeia bandido, mas tá velho pra mudar de ramo, não tem cabeça pra especializar em outra área. Então atura.
Telefone não toca, mais um dia pra nada. Saudades da mãe. Aquela que era mulher, respeitável senhora, viúva de coronel. Nunca relou num homem senão seu marido, homem honrado.
_ Dona Odete! Algum recado?
_ Nenhum Doutor Arnaldo!
Bandido de hoje não respeita nem advogado, nem delegado, nem nada. Mas fazer o quê? Até juiz é corrupto, abrem as pernas pro primeiro almofadinha que aparece. Traficante lava as mãos na sopa da justiça. Então tudo bagunça. Raça do caralho. Súcia. Fica mais fácil pra ele, mas perde a graça, sem retórica, discurso, tribunal perde a graça. Vira mercadinho.
_ Doutor Arnaldo! Telefone!
_ Pode passar!
_ Pronto!
_ E aí dotô? Bicho pegou pro meu lado, tâmo precisando do senhor por aqui!
_ Quem está precisando?
_ Pô doto! É eu pôrra! O Tiquinho! Cê me soltou tem duas semanas!
_ Certo! Fala! Que foi desta vez?
_ Um cinco sete dotô! Tava precisando levantar uma grana forte e bichô a parada! Algum caguete. Tô no décimo oitavo! Dá pro senhor dá um pulinho aqui!
_ Tô indo praí! Mas tem "o meu"?
_ Já tá providenciado!
...
_ Dona Odete! Pega meu paletó que tô de saída!


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Só mais um José – Gilberto P Reis

Só mais um José – Gilberto P Reis

João fora uma criança tímida, nascera, vivera e criou-se numa fazenda num rincão do centro-oeste mineiro. Filho único. Não tinha crianças a menos de 3 léguas, brincava só. Era uma criança apática. Seu pai passava o dia no roçado e cuidando do gado, sua mãe era uma mulher tão apática quanto ele, casara-se nova, ainda adolescente, portanto não sabia lidar com filho.

Seu nome é João Felício Bandeira Perazzo.

João tornara-se garoto soberbo. Sem amigos, mas feliz. Fora à escola, cultivando extrema inteligência. Não conhecia garotas, conhecer conhecia, mas apesar de ser um jovem belo, ocupava seu tempo escrevendo enquanto observava a vida da fazenda pela janela do quarto.

Seu pai prosperara, então contratara alguns peões para auxiliá-lo no trabalho da fazenda. Pedia ao filho que apenas estudasse. Que se tornasse doutor pra que não precisasse calejar no roçado.

João então estudava, mas divertia-se vez e outra, juntos aos peões na ordenha e correndo pasto atrás de novilha desgarrada.

João no colegial, sendo a escola longe demais pra caminhada, seu pai lhe presenteia uma motocicleta pra que fosse estudar. Torna-se exímio piloto. Vez e outra viam João cortando os morros da fazenda perturbando gado, estes corriam feitos loucos ladeira acima e abaixo, correndo da máquina de barulho infernal. Seu pai ficava enlouquecido, mas ao mesmo tempo ria com felicidade que só pai tem ao ver filho feliz.

Sua mãe continuava apática. Vendo novelas à noite que chegavam pela parabólica e num canto qualquer da casa durante o dia tecendo ou bordando.

Na escola as garotas gostavam do João, mas ele não gostava das meninas do lugar. Sempre alguma pedia pra andar na sua garupa, mas ele dizia ser perigoso, que não poderia arriscar machucar ninguém. Desculpa. Nesse tempo João já moço, andava com uma turma de garotos de sua idade, mas não tinha nenhum amigo especial, eram apenas amigos.

Certo dia voltando pra casa, encontra João uma colega da escola caminhando sozinha pela estrada poeirenta, cercada por relva de cerrado seca por falta de chuva, ele passa devagar, e é quando pára a pedido dela. Uma jovem com seus 16 anos, loira como a maioria daquele lugar, como um corpo esguio e pés no chão. João pergunta pra onde ela vai. Ela diz que está indo à cachoeira que tem por perto encontrar uns amigos. Ele então oferecera-lhe uma carona. Ela retruca, afinal não é ele que sempre negou uma garupa por ser perigoso? Mas ele diz que iria devagar. Ela ri e sobe a garupa. João segue até a dita cachoeira, mas chegando lá não havia ninguém a espera. A jovem então desconversa e chama João pra nadar com ela. João aceitou e após despir-se, ficando apenas de bermuda, que sempre vestia por debaixo das calças, pulou na água. Quando emerge assusta-se com a garota já atrás dele, como ele a nunca viu, como nunca havia visto mulher alguma. Nua. Ele sentiu um medo excitante, João, que nunca havia sequer beijado, que o mais perto que havia chegado do sexo fora nas revistas pra adultos, encontradas no alojamento dos peões, e sonhando, dormindo ou acordado, e que ruborizava sempre que seu sexo avultava, avolumando sua sunga. Ela então abraça a João, que sente seus pequenos seios rijos roçando seu peito, aquilo o enche de prazer, mas João sente medo, um medo desconhecido, queria recuar, mas a garota então o beija. O beijo, arma vital, se não fatal, faz João tremer e se libertar, ali se perde, transição que se esvai nas águas que os banham.

João gostava de escrever, e escrevia. Um semestre separava o termino do colegial e o descobrimento do amor sexual. João escrevera um livro: contos e romances. Aos 17 anos já era escritor com livro publicado. Seu pai queria que ele se tornasse doutor de ciências jurídicas, João iria pra capital se tornar doutor na ciência dos sonhos, melhor, de palavras que fazem sonhar. João graduaria comunicação na universidade federal.

João queria ser escritor, seu pai sonhava outros sonhos, mas como o bom pai que era apoiava João. Sempre feliz, alugou uma casa pequena pra João na capital, junto de sua mãe seu pai trouxe João a cidade, mostrou a João os perigos desta, pagou a uma senhora pra cuidar de João por uns tempos até que este aprendesse a se virar sozinho e a pediu que mostrasse a João os caminhos da cidade. O pai de João se despede, a mãe chora, pela primeira vez João vê sua mãe chorando, e então seu pai chora, João chora.

João estava na cidade grande agora, já havia estado uma vez, mas muito menino, não se lembra direito. João tinha casa, comida, dinheiro, mas agora ele tinha uma coisa a mais: solidão. João não tem mais moto, poeira, gado, a fazenda, inspiração.
João vai à escola. Conhece o campus, conhece o mundo. Faz amigos, conhece a noite.
Por ter obra publicada, João era célebre entre os demais. Gozava da simpatia dos professores e dos intelectuais. Começou então a gozar da simpatia das garotas. Muitas quiseram ter com ele. Garoto bonito, abastado, inteligente. Sua casa então conheceu muitas personalidades, nada notórias. Dispensou a senhora que cuidava da ordem das coisas, dos afazeres domésticos. Muitas mulheres o visitavam. Usava, era usado. Apaixonava-se, fazia apaixonar. O tempo passou, escreveu mais um livro, vendeu, comprou carro, emancipou.
Visitava seus pais entre os semestres, e cada vez menos sentia saudades da fazenda, mas ainda assim era inspiração pra seus contos, temas que ele mesmo desconhecia, como o amor e ódio. Era nato.
João amava muitas mulheres, de varias idades. Bastavam-nas que o procurasse pra suas audiências vespertinas. Em geral diziam procurar um reforço acadêmico, sendo João rapaz tão inteligente e dedicado, podia-as ser útil. Era decerto útil lhes em varias matérias.
João numa dessas tardes conheceu Ana Luísa em livraria conhecida. Ela pediu autógrafo, João deu.
Depois comprou casa nova no Aeroporto, aonde não mais cedia audiências vespertinas. Pois seu pai disse que homem tem que ser respeitoso e honrado quando chega o momento. De veraneio na fazenda com os amigos, lá mesmo Ana Luísa pejou.
Meses depois João casou. Nasceu então Felícia, sua felicidade e eterna inspiração.


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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Por onde andei...

Por onde andei... – Gilberto P. Reis

Acanguçu é uma cidade situada num extremo qualquer, mas num extremo litorâneo, pois trata-se de uma vila de pescadores, pescadores do mar. Bom, está num fim de mundo que o mundo não conhece, e que conhece pouco o resto do mundo. Eu mesmo não sei onde fica, e digo por verdade, e não resguardando mais um paraíso de vandálicos turistas, mesmo porque para se chegar em Acanguçu nem estrada tem. Caso alguém chegue ou saia de lá, ou é por mar ou à pé por trilhas e estradas estreitas e erodidas.
Os homens pescam, as mulheres não, elas cuidam das plantações de milho, mandioca e hortaliças, assim como, da coleta nativa. Mas as mulheres também são importantes para a pescaria no vilarejo, principalmente as mais moças, já que são elas que costuram as redes danificadas e respondem pela limpeza e salga dos peixes. Em Acanguçu não tem geladeira porque não tem eletricidade, então peixe tem que ficar no sal, e um pouco no sol. Mas é conservado assim não para vender mais tarde, porque ninguém em Acanguçu vende nada, ao menos não com freqüência, só quando precisam de roupa para as crianças, rapadura, fósforo e óleo para os lampiões e cachaça e fumo para os jogadores de truco. Eles plantam, pescam e criam o que comem. Não falei da necessidade de remédios, pois é, não há, pois lá também tem um curandeiro e mato que cura à vontade na mata.
Em Acanguçu há viúvas, as que estiverem velhas para o trabalho recebem de graça alimentos e suprimentos dos demais da vila, ninguém queixa o fardo. E também órfãos. Tem pescador que vai pro mar e não volta, coisas do mar, quase não se chora. Pra pescador que se presa, morrer no mar é distinto. Quem nasce no mar morrer na terra não presta. Os órfãos têm padrinhos, logo desamparados não ficam. Tem escola, onde se aprende a ler e escrever, um pouco. Quem ensina não sei. Vivem bem.
E assim segue a vida da aldeia, e suas obrigações cotidianas. Acanguçu não tem protagonista, todos seus personagens têm eqüidade. São atores mambembes. Acanguçu tem vida própria, regimento próprio. Portanto, sem prefeito ou governador, a vida é simples e fácil. Nem censo por lá passa, então título eleitoral ninguém tem. O povo de lá é caboclo, mulato, bonito. De pelos aloirados e secos, de pele dourada, não tem raça pura.
Acanguçu é cercada pelo mar pela frente e pela mata atlântica por trás, a mata ainda é cerrada, espessa, mas tem muitos anos que ninguém vê uma onça, nem uma jaguatirica sequer.

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A dura tarefa de escrever um sonho e o pensamento

A dura tarefa de escrever um sonho e o pensamento - Gilberto P Reis

Retratar minha imaginação a um quadro legível a outros é de tamanha dificuldade que venho a escrever esse comedido texto.
A passagem do mundo subjetivo para o mundo textual objetivo acarreta esforços plurais e fatigantes. A construção de um texto possui uma estrutura complexa, pois, além de designar as coisas do mundo, cria um entrelaçamento, um contexto, um mundo próprio feito de referências internas. Texto traz a idéia de tecer, formular uma estrutura complexa a partir de uma simples, portanto, transportar o pensamento –imaginar é sempre mais fácil que expressar-, encontrar a voz, a palavra, a liberdade do espírito, pode se tornar um martírio, é duro ser dominado pelo estro e não ser capaz de compartilhar. De uma maneira geral, a mente opera de modo produtivo e econômico, no sentido de alcançar o máximo de efeitos com um mínimo de esforço, isso no modo subjetivo, mas a história muda quando tratamos do modo objetivo. A capacidade de simplificar o percurso de leitura, não falo em economia verbal ou pobreza de linguagem, mas sim em adequação entre tudo que está no texto e no contexto, levando o leitor a descobrir a intenção do texto, é uma dificuldade máxima. Decerto, o segredo da textualização está nos excertos, e em alguns procedimentos organizadores, estes processos que fornecem as dificuldades (para alguns muitos, assim como eu). Apesar de situações distintas, o ato de escrever jamais se desvincula da leitura e, por isso, passa a se ter um mundo em que o eu se regula por causa da presença do outro. E leio uns e outros, mas termino por culpar-me por plágio circunstancial.
Todo processamento de informação exige algum esforço, algum dispêndio de energia mental quanto à atenção, memória e raciocínio. O esforço está numa relação comparativa com os efeitos, os quais, nesse caso, são os efeitos subjetivos. Se deparar com uma criação louvável é de um prazer... Comparável. Eu compraria este equilíbrio entre o esforço e os efeitos. Mas acreditando não haver no mercado tal coisa à venda, resigno-me.

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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

“Tô me guardando pra quando o carnaval chegar” - Gilberto P Reis

No país das obscenidades - políticas - , passado o natal e festas de fim de ano, contas mil a pagar. Chega o carnaval,o pêpêrêrêpêpêpê, o ilê aiê nacional, que somente nós, brasileiros, sabemos fazer bem, para a alegria do mundo. Nesse período de êxtase, no qual esquecemos de todos os nossos problemas e empecilhos do cotidiano, soltamos a franga, e devassada a cultura nacional, estamos lá, eu , você, nossos filhos e amigos, derramando em uma lata e outra de cerveja o IPTU, IPVA, COFINS e afins. Ao som dos mais novos hits carnavalescos. No carnaval de rua das cidades do interior, a trilha sonora que embala são as baladas “piriguete” e “créu”. Lembro-me das intermináveis axés musics de anos atrás, tocadas ao extremo. Que saudade! Hoje tenho que contentar-me com os MCs Latinos da Silva.
Mas está aí a felicidade: não adoecer, não tomar um tiro, usar e abusar, ser consumido, dançar e ver as meninas com aquelas saias minúsculas – os shorts foram aposentados, não mostravam o bastante - dançando o “creu”. Felicidade é o carnaval, é a ausência de pudor e roupa. Visitei o carnaval de Ouro Preto, e logo na entrada me chamou a atenção dezenas de faixas onde se lia: “NÃO PERCA SUA FESTA, ROUBAR BEIJO É CRIME”, algo assim, seguido das conseqüências jurídicas impostas aos infratores. Mas quem liga? Carnaval sem beijo roubado deixará de ser carnaval, ao menos carnaval brasileiro. E nesse “oba-oba” e “beija-beija tá calor tá calor”, seguindo o trio elétrico, beijando não sei quem, amassando não sei qual e bolinando não sei quem foi, que maravilha, carnaval é assim, swing pra você e para mim. Depois de findada a festa de Baco, o desespero: mas que marca é essa no meu pescoço? Não acredito que fiz aquilo! Essa afta que não sara! Caramba, será que eu usei camisinha?
Para resolverdes todos os seus problemas vades à missa de quarta-feira de cinzas, porque eu não irei. E no mais, a quaresma já vem, alguns dias de penitência... É o “lavou tá novo” sacrossanto. Têm quem não come carne, outros deixam de beber, os mais radicais deixam o companheiro(a) a ver navios por 40 dias. Então carnaval é isso! Ir à forra para suportar os dias difíceis. Não! Não é!
Meu São Clemente, me acuda! No país das maravilhas, da hipocrisia, polemizam a moça pelada na Sapucaí, pode isso? Bem que dizem que pelada ela não estava, tinha algo em torno de 4 cm² de alguma coisa tampando a como-é-que-chama. Eu digo que mesmo que esta estivesse com 20cm² de tapa-sexo ela continuaria pelada, afinal, mulher com os seios à mostra está pelada sim, pelo menos para os padrões brasileiros. Mas no carnaval pode. Na Sapucaí pode. Só não pode na praia, dentro de casa com as janelas abertas, no clube. Mas liberal meio-esquerda que sou, confesso que prefiro ver uma mulher sem camisa que os varonis de peito raspado bombado que pipocam nos dias de folia. Se homem pode, mulher também pode! Mas a moça estava fantasiada de índia... Hoje em dia índia pode?
Mas uma coisa me confunde as idéias: mulher pelada pode, mas fantasiar de Hitler não pode? Será que fantasiar de Saddam Hussein ou Bush pode? Reservar 20 milhões dos cofres públicos para agremiações dominadas por bicheiros, traficantes e toda raça de belzebus pode? Isso eu digo que não pode! Mas é só uma voz sufocada pela bateria, no meu caso, pelo trio elétrico.
Todo carnaval tem seu fim, as contas sobre a mesa me remetem ao duro show da vida e do BBB, aos corruptos nos noticiários noturnos, aos acidentes rodoviários, mas sofro do esquecimento generalizado, algo equivalente a histeria coletiva. Então meu amor, já que não é o ano inteiro, ano que vem tem mais carnaval, a gente se encontra, e nessa vez me lembrarei de pegar seu telefone, porque já estou com saudade...

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