Total de visualizações de página

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

[Do lat. Indulgente.] – segundo tom

Tanto sonhei, que quis que a realidade se acabasse
Tanto chorei, que quis que meus olhos secassem
Tanto apanhei que quis ser valente

Tanto esperei, que quis que o tempo parasse
Tanto andei, que quis que o mundo findasse
Tanto tremi, que quis ser contundente

Tanto gritei, que quis que minha voz calasse
Tanto ouvi, que quis que a dor cessasse
Tanto de tudo, que quis nem corpo nem mente

Nesse querer nada adiantou ser eu mesmo
Nesse querer nada resolveu ser outros
Tanto quis que esse querer é tormento

Querer.
Querer isso querer aquilo
Querer a infância das mãos dadas
Querer a maturidade das façanhas
Querer o campo verde todo o ano
Querer o céu azul todo fim de semana

Eu quero...
Eu quero não querer a loucura
Eu quero não querer a solidão
Eu quero não querer a cegueira da bravura
Eu quero não querer compaixão
Eu quero não querer que...

Tanto quis que esqueci de viver.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Ainda hei de encontrar num corner escuro de minha mente insana
os versos para o poema perfeito.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O canto dos repugnantes

Sapo-boi em noite escura
Lambe o ar asco inseto
Seborréico, oleoso olhar
Sob caspas nevadas plumas suja

Castelo de ouvidor-mor,
latrina politicalha
Vomífico back-door.

Pasmaceiros idólatras
Desmande os mandantes
Midiacráticos fanáticos dominantes
Rastejantes pagantes
Leis asnarias hipócritas

Acarídeo sois vós, diante ouro
Ouro de outrem, vagos, mortos
Incapazes, indolentes, inativos.
Acarídeo sugar-lhe-á decrépito.

Povoléu dessentidos, aceita regurgito
Mamífero desmamado recebendo vermes
De boca a boca lambe carne

Manipulação direta
Manipulação transversa
O objeto me carregues em fios soltos
Dance Ravel
Ravina dedilhada.

Hirudíneos, sambexunga.
Burro manso em pasto seco
É ele cagarolas de clamar
toma a poeira nos olhos
E os pés no chão
Dúbio cão leproso.

Vindo poucos a morrer de fome
Sustentam sina. Que sina?
Não é sina, é poltronice!
É pêlo, suor, escarro, catarse.
É refresco, pipoca, domingo no parque.
É segunda, semáforo.
É casa, semanário, epizootia.
Cadê o pecado? O rei comeu.
Abaixo o parlamento
Abaixo a cidadania autodestrutiva
Cadê a mediocracia alternativa?
Os bigodes rançosos imperiais?

Divórcio negociável, romance contratado
Abraço de quem odeia é um despropósito.
Saliva da madrugada.
É lodo, nódoa eterna.
Nascer bonito e limpo.
Morrer feio e sujo.
Não obstante, no leito, indaga-se:
porque não se morre como se nasce?
Morre pelo pecado, vive pela ânsia.
Deixando seus pruridos para outrem carregar.
Societários, reunião de portas fechadas
Essa sala escura não guarda boa coisa.
Mas ninguém bate à porta
Espera-se pelo fim dela,
Pelo fim deles,
Pelo próprio fim.

sábado, 2 de agosto de 2008

Românicos -Vander Lee

Românticos são poucos
Românticos são loucos desvairados
Que querem ser o outro
Que pensam que o outro é o paraíso
Românticos são limpos
Românticos são lindos e pirados
Que choram com baladas
Que amam sem vergonha e sem juízo
São tipos populares
Que vivem pelos bares
E mesmo certos vão pedir perdão
E passam a noite em claro
Conhecem o gosto raro
De amar sem medo de outra desilusão
Romântico é uma espécie em extinção
Românticos são loucos
Românticos são poucos
Como eu

A TERRA DOS SAPOS FALANTES, ELEFANTES VOADORES E RATOS ARROGANTES

Na terra da fantasia, onde não há pecado, o rei dorme tranqüilo...

O que fiz para merecer estar aqui? Pelo desejo do Mestre fui enviado para este mundo, onde não interfiro, apenas coleto o máximo para o conhecimento de meus pares. Esta raça antropofágica. Decadentes são. E para viver aqui incorporei a humanidade em meus tecidos. Aproveitei de algum comum para passar desapercebido em meio a tantos interesses vãos. Mas o abduzido fui eu. Há tempos vivo neste mundo, e não posso voltar, saudades não sinto de onde vim, porque sentimentos frágeis minha raça não sente desde a revolução, desde a vinda do Mestre. Mas aqui, neste corpo, sinto todos os sentimentos desvalidos para a minha raça. Saudades, dor, medo, ódio, amor. Aqui matam, enganam, suicidam, brigam, violentam, se drogam, se tocam. E agora faço parte disto. Sangro, bebo, odeio, e amo. Crio laços com qualquer animal, característica fundamental para a sustentação da humanidade. E se eles soubessem que neste mundo eu não posso morrer? Que quando estes tecidos que carrego definharem, o Mestre providenciará outro após outro? Até que sua vontade seja feita e eu seja finalmente enviado para o aspecto vazio. Pois simplesmente neste mundo ninguém sabe quando poderá morrer, essa imprecisão que me incomoda, não saber quanto tempo tens para cumprir metas. Esse mestre que aqui chamam de Deus, que muitos veneram, age estranhamente sobre seus protegidos, se é que posso chamá-lo de protetor. O Mestre recusou a detalhar sobre Deus antes de me enviar, assim eu não poderia interferir no que rege os mundos sapientes, a fé. Esse Deus, que não explica nada, que não se mostra, que deixa seus “filhos” ao léu, com promessas de um mundo que ninguém sabe se realmente existe, e deixa o caos tomar seu mundo... Em Andiar, eu sei quando morreria, assim como deve ser, e acaso quisesse, poderia consultar o Mestre para viver mais, até efetuar as metas, ou mesmo pela própria vontade do mestre. Mas existe uma complexidade circunstancial nesses casos. Todos têm metas em Andiar, e somos criados para realizá-las, ninguém é criado ao acaso, o que aparentemente neste mundo acontece. Bilhões de animais sem metas, egoístas. Que procriam exageradamente, sem respeito à essência. E sob o olhar complacente de Deus. E nada se aprende neste mundo, não se conhecem, não conhece o outro, e por vezes acabam por se vincularem ao que chamam de inimigo, sofrendo conseqüências de grande agravo, sendo levados pelo que chamam de: coração, conotação abstrata para compaixão, sentimento abstrato, lógico. Poucas coisas são concretas neste mundo, e vivem apenas porque absorvem do que chamam de esperança, fantasiam. Mas o que esperar de um mundo onde se consideram o outro inimigo por qual causa for? Já experimentei diversas sensações, mentir foi uma delas, já que as conseqüências destas mentiras poderiam ser desastrosas, e de fato algumas foram. Causei, um desconforto emocional ao interlocutor, aparentemente danoso, e a mim um desconforto psicofísico sem precedentes. Outras experiências, no que diz respeito à relação social e física entre humanos, experimentei. Frustração sobre frustração. Observei todos os pragmatismos humanos, unicamente, meu desinteresse. A solidão e a insegurança dos humanos os levam a cobiçar situações de singular discordância com a personalidade destes, desvio de conduta natural, social e cultural. Imaginam eles que o diferente sinonimiza satisfação e até mesmo felicidade. Eu, que sou o mais diferente dos humanos, posso garantir que a felicidade não existe. Principalmente neste mundo. Ser comum é satisfatório, diferenças criam discórdia, é ideal a luz, a energia sempre branda e monocromática. Digo que ainda conservam coisas ideais, que aos poucos se perdem, a proveito do inútil. Mas posso arbitrar que, outros mundos, nada empregariam deste, por se tratar de coisa pouca.
Desculpe-me mestre, prometo que este será meu último nesse teor, os próximos serão exatamente técnicos e necessários, mas releve se eu não cumprir minha promessa, ou até mesmo minhas metas, o que se pode esperar de um humano?

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Um adeus e até amanhã

Um adeus e até amanhã


Domingo, 20 de julho. O sol se pôs preguiçoso, tímido, os arranha-céus deixaram a desejar, ocultaram aquele bucólico e melancólico crepúsculo. Mas o efeito que me proporcionara ainda era o mesmo que os das serras de Mariana. Pela marginal, silêncio. Apenas o barulho do motor, sufocado pela música que tanto me faz lembrar o que quereria esquecer, oriunda do player, e que estranhamente me tirava dali. Não teve despedida, mas bem que poderia, daquelas com diálogos e dramas hollywoodianos. E imaginei, fantasiei, fingindo para que o percorrer aquela distância não tivesse sido em vão, para que, quem sabe? Voltar outro dia. Num dia menos agitado.
Nos últimos meses evitei aborrecer a quem quer que fosse com minhas lamúrias, com esse chororô de que ninguém agüenta. Vez por outra, acabo por confessar a mim mesmo esse romance oculto, em cartas, (poesias?), que se escondem, envergonhadas, por tal marmanjo que aqui vos escreve. Mas como me habituei a escrever num teclado, não corro o risco de papeis amarelados se revelarem num dia de faxina. E deixo os escritos, guardados, sem nome, no Winchester. Sem título, provavelmente não serão encontrados, e sim, acidentalmente, serão excluídos sem a menor pena das inspirações do dito amante.
Amor. O que é isso? Dor? Fadiga dos pensamentos? Que nos arrasta a caminhos tortuosos e aparentemente íngremes? Já ouvi falar que o amor pleno está ligado quase sempre a alguma impossibilidade. A impossibilidade do abstrato faz o concreto. O amor existe, e não falo de amor fraterno, do sangue de meu sangue, que esse é in natura. E sim o da carne, do abraço, dos lábios suados. Deste apenas sorvo. O mundo me impede a doar. E se sobre isso escrevo, é porque sei que não sendo o único, nada poderá se resolver, afinal, quem já não sofreu a perder o sono, de tremer a alma, de sentir o vazio da fome? Tudo isso pelo dito amor. Poderia contar-lhes dois anos de histórias tristes, enfadonhas, a despeito disto, mas são minhas histórias, que carrego orgulhoso. Como incorporar sonhos à realidade presente? Nesses dois anos o caso se faz tão triste, que os felizes, justamente, pareceram sequer concretizar. Paixões carnavalescas, de encontro programado ou coincidente em botecos, veranistas. Sem fundamentos ou compromissos, sem mãos dadas ou promessas. Paixões simples servem apenas para manter solitários longe do suicídio. E por isso são paixões boas, de fim de semana, ou de uma noite apenas. Na boca da saudade, gosto bom por um dia.
Como tudo acaba, metade do amor acabou, sobrou a minha metade, e fiquei para trás. Rompeu como tinha de ser. Talvez o futuro se torne presente, e se sobrar alguma coisa, desembrulhamos para ver, se tiver algo para fazer graça, e se nos fizer gargalhar, será então a retomada. Mas por enquanto esse pacote ficará escondido num canto escuro do baú da memória cansada, e ocupada com sonhos mais fáceis de alcançar. Sigo em paz, assim como segue a estrada onde voa o carro, sob onde ronca o motor. Se assim é que é, assim que vai ser. E deixarei as cartas em papel reciclado para outra vez, as ferramentas modernas de comunicação on-line, isso, penso eu, agora, extermina tão rápido quanto inicia, qualquer amor possível. Sei do vazio desses relacionamentos virtuais que se acumulam, e do tempo que se perde com essas comodidades. O bom mesmo é o encontro, é a espera no saguão do aeroporto, é a despedida chorosa. E não essa instantaneidade. Já fui e agora retorno, à moda antiga. Mandar flores, escrever cartões, convite para sair à moça que acabei de conhecer, fazer todas as vontades mesmo que ela não retorne, ou que eu não retorne o telefonema. E ligar vez por outra, do velho e bom orelhão.
E sendo assim, por amor amizade não tenho. A amizade começa onde termina o interesse. Não terá cartas então, o que poderia ser divertido, como no cinema, mas perder-se-á a graça quando o destinatário é conhecido, e não corresponde. E vou, sem o último abraço ou beijo, sem a última palavra, ao menos um “seja feliz”, sem ao menos chance de dizer o que poderia ser minha última palavra. Sem satisfazer o meu último desejo por esse amor. Enfim, é o que é, se não tenho a despedida, a chance das flores, o artifício da dúvida, se não amo como quero, amo como posso. Basta-me te conhecer, a existência, sua existência. Seja feliz e boa sorte!