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quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O capitalismo não poupa ninguém - Gilberto P. Reis

O capitalismo não poupa ninguém

Neste inicio de século, confesso que esperava por uma grande guerra internacional, ou uma avalancha de catástrofes naturais, ou até mesmo pelo fim-do-mundo nostradâmico. Mas não uma crise de proporção como a que nos anunciam.
A minha primeira crise fora em minha adolescência, melhor dizendo, a primeira crise econômica que vivenciei racionalmente. A crise asiática. A época se torna aparentemente distante devido ao furor econômico que se seguiu, com o notável crescimento econômico refletido no aumento de postos de trabalho, e conseqüentemente, no poder de compra e PIB nacional. E embora eu tenha sofrido com a inflação na era cruzado→cruzeiro-novo; principalmente pelo estresse diário de minha mãe, promovido pelo salário que nunca chegava a 2ª semana do mês; ainda não sabia que dois mais dois na economia não eram quatro, ou seja, justamente pela minha idade, consciência político-econômica zero.
A crise asiática, assim como a atual e a recessão de 20, economicamente dizendo, resumem no seguinte: Deus no céu, CEO´s na Terra. Estes alto-executivos decidem pelo o que fazer com o dinheiro alheio de forma escusa, e pouquíssimas vezes são fiscalizados pelos Poderes elegidos por nós. E quando a casa cai, ou, desculpem o trocadilho, quebra, estes mesmos elegidos decidem, por nós, tomar por empréstimo o “nosso dinheiro” para tapar buracos, a receber não sei quando. E resigno-me quanto a isto, pois sem devidas atitudes, o buraco de hoje virá a ser cratera amanhã. Muitas fortunas esvaem numa crise desta proporção, muitos se vêem à beira da falência, mas é fantasiar demais dizer que alguns deles chegaram à pobreza. Quem sofre agruras é a mãe de família, o porteiro do prédio, a atendente do banco, a gerente da padaria, em suma, quem trabalha. Integrity Bank, Merril Linch, entre outros, que antes ditavam as regras e diziam aonde e em quem deveriam os especuladores investir seu rico dinheiro, estes mesmos que não se condoíam ao classificar o Brasil país com grau elevadíssimo de risco para investimento, eles sabiam o que falavam, e o faziam, eles sabem tudo, agora, doravante, na lona. Já ouvia de minha avó: primeiro ordene sua casa. É a hipocrisia do mercado. Quer algo mais hipócrita que o Capitalismo? O Socialismo, o Comunismo, o Stalinismo, o Maoísmo, o...
É chocante assistir a imagens como a de funcionários do Lehman Brothers carregando suas caixas de papelão marrom pela rua, e os otimistas ainda proferem que outros cairão. Trabalhar num grande banco, ter um cargo administrativo inferior com remuneração de U$70.000,00 anuais não era de todo ruim. Ficar desempregado não é um grande problema, não conseguir uma recolocação sim. Aproximadamente 4.000 candidatos a nenhuma vaga prevista. Isso é crise, o desemprego, pois é no trabalho que o Homem encontra a dignidade, e talvez até a exerça.
Ainda não sentimos o toque desta crise, um pouco pela estabilidade dos últimos anos, um pouco pela lógica econômica: tarda, mas não falha. Se as medidas de contenção demoram a surtir efeito, os efeitos de uma crise demoram ainda mais. Lendo a coluna do ex-CEO do BC Gustavo Franco fico impressionado com sua tese de que não passa de mera especulação esse alarde de recessão americana e até mesmo mundial, com minhas palavras, diz ele, que o barco já deveria ter afundado. Ele não deve se lembrar que a recessão americana de 20/30 no século passado durou aproximadamente 5 anos, e não fora como a rosa de Hiroshima, de efeito imediato. Portanto, ao contrário de dizer, assim como um presidente que muda o discurso, para não nos preocuparmos com uma proveniente crise, acho melhor nos mantermos de esguelha para evitar surpresas. Nada de pânico, lógico. Mas o seguro morre de velho e carrega consigo todas as suas economias. Mas quem sou para contradizer um economista e um presidente? Fala-se em criar uma comissão internacional permanente para fiscalizar e identificar possíveis situações de risco no mercado internacional. Idéia do Meirelles. Desde quando o Brasil dá palpite no mercado internacional? Desde quando sabemos de alguma coisa a respeito. Me diga qual instituição deixará de investir em papéis de risco, são altamente lucrativos, e mercado é isso, arriscar. No jogo, ganhar é sorte, perder é conseqüência, eficiência é acaso.
O que sei de economia é: tudo que sobe desce. Se deixar o registro do gás aberto, com certeza o hélio fará o balão subir, mas quanto mais cheio maior a chance do balão estourar. E se alguém ainda acha que “não temos nada com isso, é burrice daqueles americanos, eles que se virem”, digo que até teríamos razão, se estivéssemos em 1930. Mas como estamos fazendo economias ansiosos para adquirir o tão esperado IPhone, que por aqui chega monopolizado, segregado de nós, os usuários pré-pagantes, e com um preço risível. Digo: temos tudo com isso!
E sorriam diante às notícias nos jornais. Impérios caem, e o Sol não está nem aí, cumpre suas 12 horas e se manda. É assim e até não sei quando: é preciso o sacrifício da lagarta para o refestelar da borboleta.

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