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sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Um adeus e até amanhã

Um adeus e até amanhã


Domingo, 20 de julho. O sol se pôs preguiçoso, tímido, os arranha-céus deixaram a desejar, ocultaram aquele bucólico e melancólico crepúsculo. Mas o efeito que me proporcionara ainda era o mesmo que os das serras de Mariana. Pela marginal, silêncio. Apenas o barulho do motor, sufocado pela música que tanto me faz lembrar o que quereria esquecer, oriunda do player, e que estranhamente me tirava dali. Não teve despedida, mas bem que poderia, daquelas com diálogos e dramas hollywoodianos. E imaginei, fantasiei, fingindo para que o percorrer aquela distância não tivesse sido em vão, para que, quem sabe? Voltar outro dia. Num dia menos agitado.
Nos últimos meses evitei aborrecer a quem quer que fosse com minhas lamúrias, com esse chororô de que ninguém agüenta. Vez por outra, acabo por confessar a mim mesmo esse romance oculto, em cartas, (poesias?), que se escondem, envergonhadas, por tal marmanjo que aqui vos escreve. Mas como me habituei a escrever num teclado, não corro o risco de papeis amarelados se revelarem num dia de faxina. E deixo os escritos, guardados, sem nome, no Winchester. Sem título, provavelmente não serão encontrados, e sim, acidentalmente, serão excluídos sem a menor pena das inspirações do dito amante.
Amor. O que é isso? Dor? Fadiga dos pensamentos? Que nos arrasta a caminhos tortuosos e aparentemente íngremes? Já ouvi falar que o amor pleno está ligado quase sempre a alguma impossibilidade. A impossibilidade do abstrato faz o concreto. O amor existe, e não falo de amor fraterno, do sangue de meu sangue, que esse é in natura. E sim o da carne, do abraço, dos lábios suados. Deste apenas sorvo. O mundo me impede a doar. E se sobre isso escrevo, é porque sei que não sendo o único, nada poderá se resolver, afinal, quem já não sofreu a perder o sono, de tremer a alma, de sentir o vazio da fome? Tudo isso pelo dito amor. Poderia contar-lhes dois anos de histórias tristes, enfadonhas, a despeito disto, mas são minhas histórias, que carrego orgulhoso. Como incorporar sonhos à realidade presente? Nesses dois anos o caso se faz tão triste, que os felizes, justamente, pareceram sequer concretizar. Paixões carnavalescas, de encontro programado ou coincidente em botecos, veranistas. Sem fundamentos ou compromissos, sem mãos dadas ou promessas. Paixões simples servem apenas para manter solitários longe do suicídio. E por isso são paixões boas, de fim de semana, ou de uma noite apenas. Na boca da saudade, gosto bom por um dia.
Como tudo acaba, metade do amor acabou, sobrou a minha metade, e fiquei para trás. Rompeu como tinha de ser. Talvez o futuro se torne presente, e se sobrar alguma coisa, desembrulhamos para ver, se tiver algo para fazer graça, e se nos fizer gargalhar, será então a retomada. Mas por enquanto esse pacote ficará escondido num canto escuro do baú da memória cansada, e ocupada com sonhos mais fáceis de alcançar. Sigo em paz, assim como segue a estrada onde voa o carro, sob onde ronca o motor. Se assim é que é, assim que vai ser. E deixarei as cartas em papel reciclado para outra vez, as ferramentas modernas de comunicação on-line, isso, penso eu, agora, extermina tão rápido quanto inicia, qualquer amor possível. Sei do vazio desses relacionamentos virtuais que se acumulam, e do tempo que se perde com essas comodidades. O bom mesmo é o encontro, é a espera no saguão do aeroporto, é a despedida chorosa. E não essa instantaneidade. Já fui e agora retorno, à moda antiga. Mandar flores, escrever cartões, convite para sair à moça que acabei de conhecer, fazer todas as vontades mesmo que ela não retorne, ou que eu não retorne o telefonema. E ligar vez por outra, do velho e bom orelhão.
E sendo assim, por amor amizade não tenho. A amizade começa onde termina o interesse. Não terá cartas então, o que poderia ser divertido, como no cinema, mas perder-se-á a graça quando o destinatário é conhecido, e não corresponde. E vou, sem o último abraço ou beijo, sem a última palavra, ao menos um “seja feliz”, sem ao menos chance de dizer o que poderia ser minha última palavra. Sem satisfazer o meu último desejo por esse amor. Enfim, é o que é, se não tenho a despedida, a chance das flores, o artifício da dúvida, se não amo como quero, amo como posso. Basta-me te conhecer, a existência, sua existência. Seja feliz e boa sorte!

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