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sábado, 22 de março de 2008

CAMAFEU – Gilberto P Reis

CAMAFEU – Gilberto P Reis

A grande pedra que carrego estava sob meu passo
E guardei em meu bolso
Enrolada em papel de sonhos gravados com caneta esferográfica
Em noite insônifera
E tende-me a tombar de lado pelo bolso cansado.

Carrego a pedra pra peso de papel
Para o papel de sonhos
Sonhos são ironias que ainda não aconteceram
Que aguardo como um camafeu.

Minha morte é ironia.
Ironia não dar meu nome ao seu filho que não é meu
Não dançar valsa em bodas de vossa senhoria
Velar-me sem seu desespero de viúva precoce.
Quão insano estou

E eu canto

Recanto pra afogar memórias
Maltratá-las como maltrata os ciúmes
Crime meu do mundo do criador do mundo.
E mensuro a pedra e parto em duas
Pra equilibrar meus lados enquanto caminho
[em chão pavimentado.
Em minha casa, solitário, servirão de peso de papel
E pesará meu sonho.

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