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segunda-feira, 31 de março de 2008

VÔO 1123. O DIA QUE NÃO ACONTECEU – GILBERTO P REIS

VÔO 1123. O DIA QUE NÃO ACONTECEU

Já estava tudo arrumado desde a véspera, era 05h45min da manhã, mala, as passagens, ida e volta, reservadas. O hotel: cortesia da empresa.
O café fora preparado às pressas, estava mais amargo que de costume, e, a tão apreciada torrada de pão integral besuntada de cream cheese entalou na garganta. Apesar da quebra da rotina, das inúmeras expectativas, da ansiedade, algo não estava “normal”. Estava o dia frio demais para suar as mãos.
A roupa separada sobre a cama. A barba por fazer logo tirada, e nem um pequeno corte fora registrado na face. Estranho! Um banho quente ajudaria a encarar o dia.
Era aquela a primeira viagem aérea, deveria chegar ao aeroporto pelo menos uma hora adiantado, “para evitar contratempos”.
O cabelo não estava bem... Usara então um boné. A cara não estava boa , nada estava bom naquela manhã. A bem da verdade, a roupa caíra bem , nada mais.
Tudo pronto, era hora de sair. O próximo ônibus para o aeroporto sairia às 7:00 horas, e o terminal está apenas a 100 metros do prédio. Um breve check-list do apartamento, para confirmar, sobretudo, as tomadas elétricas desligadas. E se as janelas estavam devidamente fechadas.
Já no elevador, lembrara o cream cheese, desligara a geladeira, “vai estragar”. Ao menos era a única coisa que restara nela. O elevador – geralmente isso acontece quando estamos “em cima da hora” - parou em cada um dos 12 andares antecedentes, o nervosismo tornara aparente, mas enfim saíra a tempo, e após um breve caminhar, adiantara 7 minutos em relação à partida do ônibus. O pensamento voa distante, aproximadamente 500 km. O pulso acelerado. Chegara o dia, finalmente. Tantos planos, tanto tempo, e naquele momento, tudo parecia estar numa tempestade de areia.
A porta do ônibus abre, aguardara então que os demais passageiros entrassem primeiro. O motorista o olhou por alguns segundos, e com aquele silencio, parecia querer desvendar o destino daquele singular passageiro. O cumprimenta, e então fecha a porta, dando partida ao veículo. Deixando para trás um homem sentado no passeio, com sua mala, e um bilhete dançando no ar, sob o efeito da fumaça lançada pela descarga motriz.
Talvez não tenha acontecido desta forma, mas deveria ter sido, já que ninguém notara um assento vazio no vôo 1123.

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