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sábado, 22 de março de 2008

Poemas, poesias e prosas e...


O gato – Gilberto P Reis

Boa-noite! Digo ao espelho
Vem a hora do descanso
A tinta secou
A pena gastou
E sendo assim os sonhos não voam mais

O papel branco na mesa
Revela onde estou
Os meus desejos carnais

Sabe-se que Marias e Marias
Partem e vão nem sempre sós
Há sempre outros Joãos
João que me tomou Maria
Me presenteou a solidão
E não é por Maria
Por que Maria tem muita
É por causa do gato

O felino que me esquentava os pés
Aos pés da escrivaninha
De madeira compensada
O bicho não era meu
Era de Maria
Tanto que nem lembro o nome do bicho
Assim como Maria não se chama Maria
E quem a levou não se chama João
Mas o gato foi levado e
Era branco como o papel sobre a escrivaninha.

Papel
Que limpa a boca gordurosa
Que orna sanitários
Que aceita obscenidades
Que suga água e óleo
Que seca os dedos glutões
Sempre branco
O branco merece o sujo

Era estranho e belo
Maria acariciando o gato
Carregava pra lá e cá
Amava o bicho
Me odiou no final
Eu não tinha ciúmes do gato
Entende?

Maria era gentil
Com o gato com João
Comigo não
Mas eu tinha pena
Papel, tinta, ...e gato
A raiva de Maria era que no papel branco
Eu escrevia Maria rainha eu era rei
No papel branco.

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